Raio X das Drogas

Por: Arlene Borja


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A maconha produz um grau elevado de percepção. Sob a ação do THC consegue-se superar os condicionamentos e os limites. Muitas substâncias do grupo CANNABIS, como o haxixe e o cânhamo, bem como alguns cogumelos e cactos, realçam ou fazem aflorar o psiquismo, eliminando temporáriamente as barreiras de relação do inconsciente com a realidade.

A maconha projeta o mundo inconsciente com seus desequilíbrios, conflitos, registros, anseios, prazeres, contenções, complexos, medos, etc., diretamente o “Eu” ou o “Si mesmo” pensante de cada um. Provoca um descontrole do pensamento criando, às vezes, um estado de loucura ou psicose (é quando a pessoa se desespera e quer recompor essa fragmentação de seu ego que está anestesiado, trazendo a perda do discernimento e do julgamento). Faz ver as coisas por um outro prisma, realçando elementos já pertencentes ao índivíduo.

Tanto maconha como o álcool, as anfetaminas, os comprimidos para reduzir o apetite, os xaropes à base de ópio, o haxixe, os cogumelos, o LSD, o peiote, o estramônio, etc., podem representar um estopim para a explosão final que dissolve o ego. Os efeitos psicológicos destas drogas, podem ser diferentes entre si: a maconha fragmenta o ego, as anfetaminas o reforçam, mas ambos podem levar à loucura.

Quanto aos efeitos físicos, o princípio ativo da maconha, o conhecido THC (ou tetrahidrocanabinol), determina modificações precisas em qualquer organismo. O principal efeito orgânico do THC é a hipoglicemia ou queda dos níveis de açúcar do sangue, o que explica a fome e a vontade de comer doces freqüentemente verificada como efeito da maconha. Outros fenômenos importantes são: ligeira queda inicial da pressão arterial, relaxamento muscular, irritação das conjuntivas (olhos vermelhos), formigamentos, acentuação do paladar, secura da boca e da garganta, e alguns outros de menor importância.

Como efeitos gerais mais comuns, temos: sensação de calma, humor exagerado, riso intenso, o tempo parece passar lentamente, sensação de introversão, vertigens, tonturas, preguiça, letargia, vontade de permanecer estático, esquecimento, falta de memória ou memória seletiva com flashes do passado que surgem sem explicação ou estímulo, inibição ou desinibição intensa, sensação de liberdade, maior acuidade mental, maior prazer no orgasmo e aumento do apetite sexual, dificuldade de terminar o que foi iniciado ou de concluir e dar seqüencia a um pensamento ou idéia, maior consciência do corpo e da conexão corpo-emoção, sensação de leveza ao andar, euforia, modificações bruscas do humor, podendo passar da excitação à angústia e vice-versa, sensação de estar observando a si mesmo, etc.. Tudo isso é muito variável em grau e intensidade (embora sejam efeitos comumente relatados pelos iniciantes, usuários de rotina e fumantes crônicos de longa data) .

O THC pode ou não provocar dependência física. Mas, freqüentemente, a dependência está ligada a insatisfações familiares, sociais, pressões psicológicas, à ansiedade, etc., onde o tóxico pode representar uma fuga ou um meio para ficar longe de uma situação aflitiva e conflitante impossível de ser manipulada pelas próprias forças do indivíduo. Tanto é assim, que existem usuários que fumam grandes quantidades, mas não criam dependência de nenhum tipo, o que é comprovado pelo não surgimento da síndrome de abstinência, e outros que desenvolvem alto grau de dependência, tornando-se viciados em curto espaço de tempo, fumando pequenas quantidades, mesmo com grandes intervalos entre as doses.

Em relação à idade, sabe-se que quanto mais jovem o fumante, mais intensa é a experiência e mais forte a possibilidade do surgimento de dependência, principalmente psíquica. Em adolescentes, o consumo intenso determina a conhecida e comentada “síndrome de desmotivação”. Uma criança ou adolescente ainda não possui a personalidade formada ou pelo menos bem estruturada – vive muito mais sob a influência das incontroláveis “forças do inconsciente” ou do “id”. O consumo de maconha nessa idade pode estabelecer atraso ou retardo na formação do indivíduo e distanciá-lo da realidade verdadeira.

Marcio Bontempo

Maconha X Macrobiótica

Parece muito difícil para as pessoas vindas da cultura das drogas alcançarem toda a extensão do enfoque macrobiótico. Ao falar com elas sobre suas experiências prévias e sua educação, vi que elas tinham basicamente dois motivos para usar drogas. Em primeiro lugar, muitas estavam esperando das drogas uma nova visão mental ou espiritual depois delas terem ficado preocupadas e então desiludidas com o estado atual de nossa civilização. A segunda razão principal para fumarem maconha era uma necessidade de relaxamento de tensão física e mental.

Eu entendo esses desejos muito naturais e compreensíveis, mas ao mesmo tempo, recomendaria um meio mais sensato de alcançar esses objetivos, que pode ainda ter um efeito profundo e duradouro na sociedade de um modo geral. Felizmente, durante esses anos tenho tido a oportunidade de ver milhares de pessoas na América do Norte, Europa, América do Sul e no Extremo Oriente recuperarem sua vitalidade física, mental e espiritual, e estabelecerem um claro senso de fraternidade com toda a humanidade através da eliminação dos elementos artificiais em seu modo de viver e em sua dieta, inclusive alucinógenos, e do retorno a uma orientação mais sadia e sensata. Muitos deles me contaram histórias sobre seu uso de drogas no passado e suas experiências mostram o mesmo padrão geral.

Os resultados imediatos (relaxamento repentino e um sentimento de consciência expandida) são seguidos com o passar do tempo por uma fadiga crescente, confusão mental, e uma inabilidade de agir com suficiente rapidez para confrontar os desafios normais da vida diária.

Em termos de bom senso apenas, pode-se compreender esta conseqüência como a ação inevitável do equilíbrio dinâmico, que é a base dos fenômenos fisiológicos, psicológicos e todos os outros fenômenos naturais. O uso prolongado de substâncias que têm efeitos expansivos tão dramáticos deve eventualmente enfraquecer o sistema nervoso e os outros sistemas principais do corpo. Mas específicamente, os sinais deste processo aparece em sete áreas principais:

1. Embotamento das funções nervosas autônomas – Inicialmente, a maconha ativa tanto os sistemas nervosos parassimpático quanto ortossimpático. Entretanto, esse tipo de estimulação contínua e extrema tende a deixar o sistema parassimpático menos sensível, com a perda conseqüente de rapidez e precisão na adaptação ao meio ambiente físico. Com o enfraquecimento da coordenação motora, os acidentes tornam-se mais freqüentes;

2. Sensibilidade decrescente – A repetição prolongada do aumento de sensibilidade que os fumantes de maconha experimentam leva ela mesma a uma outra forma de insensibilidade enquanto as células do sistema nervoso passam a ser semi-permanentemente expandidas e assim perdem suas forças de reação natural;

3. Perda de clareza – A maconha afeta a parte interior do cérebro, especialmente o mesencéfalo, mais do que o o córtex cerebral. Na sua estrutura anatômica, tanto quanto nos circuitos de corrente eletromagnética que fluem através dele levando informação, o cérebro consiste em várias órbitas arranjadas numa espiral contínua. O mesencéfalo, que se situa no término central dessas órbitas, pode ser comparado a um computador que junta informações do sistema nervoso inteiro em forma de estímulos, para depois transmitir essas informações para fora, às partes apropriadas do corpo, em forma de várias respostas como a fala e decisões para agir, etc.. Para que esta função chave opere bem, a órbita mais interior do sistema nervoso, que se situa no mesencéfalo, deve ser firmemente bobinada e altamente energizada com suas células compactas. A expansão habitual produzida pela ação química da maconha e drogas similares de “expansão da mente” tem um efeito prejudicial na clareza mental depois de um tempo, embora a impressão inicial possa ser de relaxamento e aumento de clareza;

4. Enfraquecimento dos órgãos internos – Como o mesencéfalo, cujo funcionamento é debilitado pela tendência expansiva da maconha, os principais órgãos relativamente yang tendem a se enfraquecer pela maconha e drogas similares. Entre eles estão o baço, o pâncreas, o coração, os pulmões, o fígado e os rins;

5. Declínio da vitalidade sexual – A princípio, a maconha pode aumentar a sensibilidade sexual; entretanto, seu uso contínuo cria um desequilíbrio na quantidade e qualidade das secreções hormonais, tais como a testosterona, devido à estimulação anormal das glândulas supra-renais, gônadas e pituitária. Este desequilíbrio do sistema hormonal, quando combinado com o enfraquecimento geral do sistema nervoso, leva à debilidade e ao funcionamento caótico do sistema reprodutivo;

6. Degeneração da qualidade dos glóbulos vermelhos – A maconha e drogas similares tendem a destruir a flora intestinal, que é essencial para que a comida seja absorvida sem dificuldades, passando para a corrente sanguínea. O fígado, o baço, e o tutano dos ossos, envolvidos na regeneração contínua dos glóbulos vermelhos, são prejudicados pelo uso prolongado da maconha. Portanto, as pessoas que já sofrem de formas brandas de doenças associadas a uma pior qualidade do sangue, como leucemia, diabetes, asma e várias doenças de pele, tendem a sofrer uma piora de sua condição depois do uso prolongado da maconha;

7. Danos psicológicos e sociais – Estas várias manifestações de reduzida vitalidade física e mental se combinam para retardar o desenvolvimento individual e social nas pessoas afetadas por elas. Elas são cada vez menos capazes de lutar pela realização de seus ideais ou sonhos, e começam a preferir apenas os prazeres ou confortos mais sensoriais, sentimentais e temporários. Tornam-se menos capazes de renovar e manter sua solidariedade com os outros em relacionamentos que requerem compromissos a longo prazo, tais como comunicação com os pais, ou várias formas de esforços intelectuais comuns.

O uso crescente de substâncias yin (expansivas), tais como a maconha, o LSD e a cocaína – tanto quanto as drogas legais, inclusive as anfetaminas, os tranqüilizantes e muitos outros remédios – é compreensível como uma resposta natural ao consumo cada vez maior de produtos animais em forma de carne, e especialmente de produtos de granja, como ovos e queijo, os quais têm um efeito geralmente contrativo em nossa fisiologia.

O atual uso de drogas na América, sem paralelos, é uma tentativa inconsciente de equilibrar o padrão dietético da civilização moderna, igualmente sem precedentes, que, nos últimos cinqüenta anos, substituiu os grãos integrais pela carne e os laticínios como a comida principal. Em vez de mingau de aveia, bolos de milho, panquecas de trigo sarraceno, pão de trigo integral ou outras formas tradicionais de cereais em grão, o café da manhã, por exemplo, muitas vezes consiste em presunto ou bacon mais dois ou até três ovos, com as outras refeições correspondentemente altas em produtos animais.

Os produtos animais podem ser úteis em raras ocasiões, em certos casos de trabalho físico pesado, especialmente num clima do norte de inverno muito frio, mas não são necessários todos os dias para as atividades sedentárias a qual se dedicam a maioria dos americanos agora em nosso clima temperado. Portanto, o café da manhã de bacon e ovos acaba tendo que ser contrabalançado por itens muito yin como café, suco de laranja dos trópicos e cereais altamente refinados e quimicalizados com o açúcar branco.

Eu recomendaria a qualquer um que tenha tomado muitas drogas no passado e que quer mudar sua dieta para uma orientação mais tradicional, que o faça de uma forma gradual e moderada.

Por exemplo: consumindo

os grãos integrais em 40% a 60% do total da comida ingerida;
os vegetais, em 20%;
os feijões em 10%;
os vegetais marinhos (algas) em 5%;
peixes e outros frutos do mar, nozes e sementes em 5%;
tomar bastante líquido. Menos café e bebida alcoólica e mastigar bem o alimento.

O erro comum das pessoas que usaram drogas no passado e que adotam uma dieta macrobiótica é esperar resultados rápidos comendo uma grande porcentagem de grãos. O corpo pode, então, começar a eliminar pela pele toxinas acumuladas, já que o sistema urinário ainda não recuperou seu funcionamento. Por isso recomendo que seja aumentada a porcentagem de vegetais, frutas e diminuída a de grãos integrais.

Durante este período de recuperação, a melhora é gradual, mas pode ser interrompida pelo reaparecimento passageiro ocasional de sintomas associados à época anterior quando o indivíduo estava tomando drogas.

No campo psicológico estas pessoas tem uma tendência a vagar, sem objetivo, de uma prática espiritual para outra, de um grupo de amigos para um novo grupo, de um emprego para o próximo, numa contínua troca errática de engajamento. Esta característica, causada por um declínio geral em nossas forças inatas de julgamento.

O enfraquecimento do sistema nervoso central, na raiz deste problema, é causado não apenas por fumar maconha, é claro, mas pela utilização total de químicos fortes, como os medicamentos que permeiam a vida moderna. Diante desta onda de crises, uma proporção crescente da população, cujas forças de julgamento foram debilitadas pelos efeitos do uso de drogas, se arrasta sem parar de médico para médico, de guru para guru, de perito para perito, de curso para curso, e nunca pensam em pensar por elas mesmas.

Já que o uso crescente da maconha e outras drogas expansivas, tanto lícitas quanto do receituário médico, é um fenômeno biológico, eu não sou a favor do enfoque que tenta controlar aquele padrão de comportamento através de punições legais ou persuasão moral. Tais esforços estão destinados ao fracasso, já que eles ignoram a causa subjacente que é fisiológica.

Em diversas épocas na história moderna tem-se tentado proscrever, em bases morais, vários tipos de comportamentos tais como práticas homossexuais, consumo de bebidas alcoólicas, abortos, etc. Todas essas leis acabam demonstrando a impossibilidade de serem postas em vigor porque onde quer que imposições artificiais apareçam na sociedade humana, elas inevitavelmente geram uma ampla oposição.

Uma parte de nossa dignidade humana implica aprender, através da experiência e observação, como assumir responsabilidade por nossas vidas, inclusive nossa saúde, como indivíduos. Cada família é também responsável pela saúde e felicidade de seus membros.

O aparecimento de leis, tais como a proibição do consumo do álcool ou a criminalização da maconha na sociedade moderna é um sinal de que a educação foi defeituosa no lugar aonde ela naturalmente começa: no lar.

Michio Kushi

** Nota sobre os autores:

Márcio Bontempo, médico homeopata. É também grande conhecedor da medicina e da dieta naturalista;

Michio Kushi radicou-se nos Estados Unidos, para pós-graduar-se pela Universidade de Colúmbia, após ter-se licenciado pela Universidade de Tóquio. Ministrou conferências sobre medicina, filosofia e cultura orientais e macrobiótica por toda a América do Norte, Europa, América do Sul e Extremo Oriente. É autor de vários livros.

Fonte: [ ATIBAIA.COM>BR ]

Autor: Anderson Porto

Desenvolvedor do projeto Tudo Sobre Plantas

2 comentários em “Raio X das Drogas”

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