Desde que o homem começou a cultivar os alimentos em vez de apenas coleta-los na natureza, as espécies foram modificadas para se tornar mais nutritivas e produtivas. Esse processo, conhecido como domesticação das plantas, teve início 11000 anos atrás no Oriente Médio e ganhou força com a descoberta de técnicas agrícolas rudimentares. Com laminas fincadas em pedaço de madeira ou de osso, os homens colhiam grãos com mais agilidade. Cestos ajudavam no transporte e tabuas porosas facilitavam a remoção da casca dos grãos.
A agricultura multiplicou entre dez e cem vezes a produção por hectare, em comparação com as mesmas plantas na natureza. Hoje, caso a humanidade resolvesse abdicar da agricultura e voltasse a viver da caça e da, estima-se que um terço da população ficaria sem comida.
Um efeito colateral da opção por espécies cada vez mais produtivas e adequadas à agricultura e, mais recente, às exigências do mercado foi a queda de variedades de vegetais que compõem o cardápio da humanidade. Hoje, só o trigo, o arroz e o milho são responsáveis por mais da metade da dieta calórica mundial obtida com o consumo de vegetais.
Desde o inicio da agricultura, os lavradores costumam guardar parte de suas sementes. Se uma colheita for perdida, essa reserva pode ser a diferença entre a sobrevivência e a fome. O que vale para a fazendas serve para os países. A maioria deles mantém bancos de sementes de seus principais cultivos. O mais importante do Brasil é o Cernagem em Brasília, com mais de 100 000 tipos de sementes. Isso não significa que estejam realmente seguros. Muito desses depósitos estão em nações sujeitas a desastres naturais ou convulsões políticas.
Os talibãs destruíram a coleção nacional de sementes do Afeganistão, em Cabul. Variedades milenares de trigo foram perdidas. O banco de sementes iraquianos, localizado em Abu Ghraib, foi arrasado por vândalos, durante a invasão americana. Amostra de espécies raras de trigo, lentilha, centeio e cevada desapareceram.
Foi inaugurado numa ilha do Arquipélago de Svalbard, na Noruega, a 1.200 quilômetros do Pólo Norte, uma verdadeira arca de Noé de alimentos. O deposito, construído no interior de uma montanha gelada, terá capacidade de armazenar 4,5 milhões de amostras de sementes e resistir a praticamente todas as catástrofes imagináveis, incluindo a explosão de uma bomba nuclear. O projeto é das Nações Unidas.
O lugar esta sendo chamado de forma exagerada de “caverna do juízo final.” Na verdade, o banco de sementes não terá utilidade apenas se houver uma hecatombe (conjunto de desastres ecológicos) mundial. O mais imediato é servir como um reservatório genético, que poderá ser utilizado por cientistas para experimentar cruzamentos e desenvolver novas variedades de plantas.
Curioso é que os vegetais encontrados na natureza eram de forma muito diferentes do que conhecemos hoje. O milho foi encontrado no México e era uma gramínea chamada teosinte, cuja espiga tinha 3 centímetros, e, por meio da seleção dos grãos, transformaram-na no milho. Demorou 9 000 anos para se obter a espiga atual de 45 centímetros.
O trigo, a espécie primitiva dispersavam suas sementes. Os primitivos agricultores do Oriente Médio passaram a selecionar aqueles pés que, por mutação genética, tinha caule forte o suficiente para sustentar a espiga.
A soja foi domesticada há mais de 5.000 anos na Manchúria, no norte da China, era uma planta rasteira pouco produtiva. A variedade atual, melhorada pelos agricultores chineses, rende quinze vezes mais que a espécie original. Que hoje só existe no banco de sementes.
A batata cultivada nos Andes há 7 000 anos, era retorcida e de aparência pouco atraente. A batata-inglesa descende da seleção dos tubérculos mais redondos, de cor amarela. Casca lisa e de mais fácil digestão feita pelos europeus a partir do século XVI. Temos ainda o arroz, a cana de açúcar, batata-doce etc. O Brasil também deve mandar em breve amostras de espécies conservadas pela Embrapa.
Fonte: [ Diário da Serra ]