Maconha não é mais uma droga leve.
Essa é a novidade na argumentação sobre os motivos de manterem a erva ilegal. Falam que, com o passar dos anos, e o desenvolvimento genético, a planta que tinha 4% de THC virou um monstro, podendo chegar até 20% desse químico terrível.
Então, corram para as montanhas!
Sim, parece piada mas, novamente, esse é o tipo de factoide lançado por quem não entende absolutamente nada de maconha. Não vou mentir: a erva realmente ficou mais forte. Isso é uma certeza.
Tudo começou nos Estados Unidos, ainda na década de 70, quando os hippies começaram a misturar genéticas afim de melhorar a potência e a qualidade do fumo. O estágio final dessa evolução foi dada pelos Holandeses, quando introduziram técnicas de cultivo indoor, juntamente com hidroponia, para obterem melhores resultados com as genéticas já existentes.
O que ninguém fala, ou fala pouco, ou prefere esquecer-se, é que a concentração da droga também exerce mudança na forma de consumo da maconha. Isso você observa no próprio álcool. É comum pessoas beberem uma garrafa de cerveja mas quando o produto é tequila, contamos o quanto ingerimos em doses.
Assim, o baseado dos anos setenta, que era uma vela, passou a ser menor, mais comedido. Claro, não posso deixar de falar que existem cabeções que fumam um “beck” gigante de skunk e ficam retardados. Isso faz parte. Mas vamos ser sinceros. Qual o efeito colateral desse baseadão sem noção? Uma dormida gostosa, depois de umas boas risadas e um ataque a geladeira? E o que acontece quando alguém bebe uma garrafa de Tequila?
Avançando no tema. Não preciso ir muito longe para embasar minha explicação. O homem convive com altas concentrações de THC a centenas de anos.
Para evitar que o careta mais próximo diga que estou me desmentindo, afirmando que eu mesmo, nesse texto, expliquei como a maconha evoluiu de 5% para 20%, vou ser curto e grosso. O consumo de haxixe é quase tão antigo quanto o uso da própria maconha.
O hash, para os mais íntimos, nada mais é do que a resina das flores da planta. A concentração do princípio ativo, nessa poderosa substância, é muito maior do que os 5% apresentados pelos “entendidos” quando falam da maconha do passado.
Quer dizer que a humanidade convive com concentrações de THC maiores do que 15% a algumas centenas de anos? Sim.
Chega a ser engraçado, então, que se apresente fatos tão horripilantes contra a maconha moderna, baseado em um argumento tão frágil. O problema é que quando falam isso para a minha mãe, que não entende bulhufas, ela fica assustada.
E esse é o ponto que eu venho martelando. O objetivo dos proibicionistas, hoje, não é mais discutir. Nenhum deles quer resolver o problema. O que eles querem é criar factoides, assustar a população, e desviar o foco do debate. Muito bem, poderia acabar o texto aqui mas não vou. Quero colocar mais alguns fatos ainda dentro desse mesmo tema.
Quando vim para a Europa pela primeira vez, em 1998, uma das coisas que mais me impressionou era o fato de que as pessoas não fumavam maconha pura. No Brasil, era inconcebível misturar a erva com tabaco. Além de estragar o gosto, o barato que dava nos não fumantes, era alterado por uma sensação estranha causada pela nicotina.
Outro detalhe interessante, que era ainda mais acentuado em países como Espanha e Portugal, era o consumo em larga escala do haxixe, algo, mesmo hoje, muito raro no Brasil. Pelo estreito de Gibraltar, passavam e continua passando, toneladas de haxixe da mais pura qualidade. É o famoso Marroquino, vindo do país de mesmo nome e com a maior plantação de cannabis do mundo. O haxixe lá é uma cultura milenar e a potência é conhecida no mundo todo. Um bom haxixe Marroquino tem entre 15% e 25% de THC e ele é um produto de fácil acesso na península Ibérica desde que Tariq ibn-Ziyad, invadiu a região. O fumo, então, por ser muito mais forte, sempre foi misturado com tabaco. Um clássico exemplo de como a potência do produto, afeta a forma com que culturalmente se consome a maconha.
E não me venha você dizer que o motivo para se fumar haxixe com tabaco seja o fato de ele queimar melhor. Isso é uma verdade. Mas não esqueçamos que o consumo de haxixe é ainda mais gostoso quando degustado em um cachimbo. Os Shaivas, devotos de Shiva, por exemplo, fumam a resina em um chilum, pura. Coloquei esse último exemplo apenas para me distanciar um pouco da tradição árabe e provar que não tem novidade nenhuma em consumir altas concentrações de THC, mesmo em outras culturas do planeta.
Então, para finalizar, concluo que esse argumento notável e novo dos proibicionistas já está desatualizado em pelo menos uns 1900 anos. Sim, a evidência mais antiga de uso da resina da cannabis data do ano 100. Existem provas, na forma de relíquias arqueológica, que já naquela época se fumava haxixe.
Bom, se isso não é suficiente para mudar a opinião de um “assustadinho”, só mesmo esperando pela volta de Jesus. Ai eles podem escutar a verdade da boca do próprio messias.
Fonte: [ Diários do Cannabista ]
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