Em Defesa da Medicina Chinesa

por Gilberto Antônio Silva

O Fantástico deste domingo (29/08) mostrou uma matéria absurda descaracterizando a medicina chinesa e terapias alternativas. A matéria completa está aqui. Abaixo segue minha resposta – desculpem a extensão, mas estes esclarecimentos são muito importantes para a saúde de todos nós.

Desacreditando as medicinas naturais

Foi realmente horrível terminar o domingo com uma matéria tão absurda e mentirosa quanto o novo quadro do Fantástico “É bom pra quê?”. Respeito profundamente o Dr. Dráuzio Varella e seu trabalho, mas não é admissível uma matéria tão manipulada e tendenciosa quanto esta, cujo único objetivo é desinformar e confundir o telespectador, propagando a idéia errônea de que “só a medicina moderna salva”.

Essa história de que a medicina ocidental moderna é a panacéia para todos os males e o resto é só superstição, volta e meia vem à tona. Se a ciência médica moderna curasse todos os males de modo eficaz e simples, não haveria “medicina alternativa”. As pessoas tomam chás justamente em virtude da ineficiência da medicina alopática moderna.

O foco de ataque principal da matéria, além dos tratamentos alternativos em geral, pareceu ser o Hospital de Medicina Alternativa de Goiás, único no Brasil a se dedicar unicamente às terapias alternativas. Um risco para vários interesses corporativos.

É óbvio que qualquer coisa pode ser perigosa à saúde, até água. Mas os “perigos” dos chás nem de longe se igualam aos perigos dos medicamentos químicos mal testados, ineficientes, perigosos (preciso citar a relação de medicamentos recolhidos todos os anos?) e muitas vezes mal receitados.

O doutor Juang Horng Jyh efetuou uma pesquisa com médicos brasileiros, para sua tese de doutorado na UNESP, que mostrou que 60% deles afirmou que na faculdade não tiveram aulas específicas para aprender a receitar um medicamento. E mais: 27% dos entrevistados se atualizam com a ajuda de vendedores dos laboratórios. E 73% admitiram que já receitaram remédios sem conhecer bem a composição deles. Ainda acham que o perigo está no chá da vovó?

Foi dito na matéria, sobre as práticas antigas, que “…mas enquanto a medicina era feita dessa maneira, epidemias matavam populações inteiras; éramos incapazes de impedir a progressão das doenças, ou mesmo de aliviar a dor. As pessoas morriam cedo e sofriam mais”.

Mentira. Pura propaganda. Epidemias estão historicamente relacionadas com saneamento básico e higiene e não com medicina. A cólera é um exemplo de doença que matou incontáveis milhões de pessoas e é causada apenas por falta de saneamento. Epidemias são combatidas com prevenção e não somente com cuidados médicos. Muitas doenças eram combatidas com medicinas antigas, especialmente as sofisticadas medicinas indiana e chinesa. As pessoas não estavam entregues à própria sorte, como parece afirmar a matéria. Sobre alívio da dor, indianos e chineses já utilizavam analgésicos enquanto a Europa pensava no que fazer com o Império Romano. Se acreditam que as pessoas antigamente sofriam mais, deveriam visitar as filas do SUS nos hospitais públicos brasileiros. A medicina moderna é maravilhosa para quem corre para um Sírio-Libanês ou Albert Einstein sempre que tem uma unha encravada.

Mas vamos nos concentrar nesta afirmação: “A milenar medicina chinesa era tão precária que, até o início do século passado, os chineses viviam, em média, pouco mais de 30 anos”.

Isso é um desrespeito para com uma medicina que se mostra cada vez mais atual, com testes e estudos científicos realizados em todo o mundo. Uma expectativa de vida mais alta se deve prioritariamente a fatores como facilidade de abrigo, fornecimento de alimentação, saneamento e higiene, mecanização do trabalho e ausência de conflitos armados. Não é a eficácia da medicina que delimita a expectativa de vida. Um declínio da mortalidade e aumento na expectativa de vida ocorreu na Europa a partir do século XVII, sendo que até meados do século XIX a Inglaterra viu a expectativa de vida saltar de 33 anos para acima dos 40. ANTES do advento da “maravilhosa” medicina moderna. Mesmo assim, segundo a OMS, a expectativa de vida mundial na virada do século XX era de 31 anos, logo a China não estava fora desse modelo. Os sofisticados europeus mal passavam dos 40 anos.

Apesar da “droga milagrosa”, penicilina e antibióticos, as infecções prosseguem e muitas bactérias se tornaram resistentes ou mesmo imunes a esses medicamentos. Deve-se ter em mente ainda que a ANVISA se mostrou preocupada, recentemente, com o excesso de prescrição destes medicamentos por médicos. Sim, por médicos.

Os chineses possuíam muitas fórmulas para isso, mas se enquadraria na “medicina precária” da China, não? Fórmulas com ervas para combater infecções existem desde a Dinastia Han (século II) e ainda são utilizadas, com sucesso.

O Hospital de Ditan, em Beijing, especializado em doenças infecto-contagiosas, desenvolveu este ano um composto de ervas para prevenir e combater a gripe suína. O tratamento com a fitoterapia chinesa se mostrou muito mais rápido e seguro e com um custo de 25% do tratamento alopático. Todas as pessoas que se submeteram ao teste foram curadas da gripe rapidamente e sem efeitos colaterais.

O Dr. Varella ainda perguntou ao Presidente do Conselho Federal de Medicina como ele via esses tratamentos com plantas. Deve ser piada. Não são os fornecedores de ervas que custeiam os maravilhosos seminários médicos, ou pagam viagens, ou refeições. Nem são quem patrocinam eventos e publicações médicas.
Na verdade, a fala do ilustre presidente serve exatamente para definir a medicina moderna, especialmente no Brasil: “Isso me parece muito mais um remendo, que transforma aquilo que deveria ser de qualidade num arremedo de um tratamento. As pessoas estão enganadas. As pessoas estão recebendo algo que não é o melhor.“

A verdade, mesmo, é que 80 a 90% das pessoas que adentram um consultório de terapia alternativa JÁ PASSOU por médicos, com seus exames e tratamentos maravilhosos. Não é incomum encontrar pessoas com 5Kg de exames ultra-modernos e laudos de uma dúzia de médicos, sem ter encontrado solução para seus problemas e, muitas vezes, sem nem ao menos um diagnóstico adequado. Por que será que as pessoas tomam chá?

Uma repórter ainda visitou vários postos de atendimento médico para um exame de seu pulso (cisto sinovial). Uma denúncia das longas filas de espera, atendimento mal feito, diagnósticos e prescrições erradas? Não, foi apenas para mostrar que a eficácia do tratamento alternativo se deve mais ao “efeito placebo”, causado pelo apoio humano do terapeuta alternativo em uma consulta de 40 minutos (e não de 1,5 minuto como no caso dos médicos). Uma clara demonstração de manipulação dos fatos para comprovar o que se deseja. Jornalismo de quinta categoria.

Ainda se utilizou casos extremos, de pacientes que tomaram chás para câncer, com grande ênfase. Será que pacientes que vão a um consultório médico do SUS saem com exames diagnosticando corretamente um câncer? Será que não se descobre a doença tarde demais? Será que médicos que não conseguem diagnosticar um cisto sinovial poderiam descobrir um tumor no fígado?

A aparência deste material veiculado no domingo é de matéria vendida segundo interesses alheios. As críticas ao sistema médico foram veladas e diluídas nas críticas ferozes aos tratamentos naturais. Não se pode conceber um material jornalístico sério que tenha como objetivo unicamente direcionar a opinião do telespectador. Informar não é conduzir.

Espero, sinceramente, que as próximas edições tenham um conteúdo mais informativo e imparcial, embora já tenha sido anunciado que o objetivo da série é mostrar que as ervas devem ser utilizadas apenas quando há evidências científicas. O que não se diz é que, nesses casos, as pessoas comuns ficam proibidas de indicar os produtos, que devem ser prescritos apenas por médicos e produzidos em farmácias. De volta aos “interesses ocultos” por trás do material.

Fonte: [ Blog Vida Oriental ]

Autor: Anderson Porto

Desenvolvedor do projeto Tudo Sobre Plantas

10 comentários em “Em Defesa da Medicina Chinesa”

  1. Lembro-me bem que há alguns anos vi no Jornal do SBT, (apresentado por Hermano Henning) denúncia atribuída a cientistas(só não citaram quais cientistas) que afirmavam que adubos orgânicos(isso mesmo, cocô de animais) davam câncer. Fiquei revoltado com a notícia e cheguei a ligar para a emissora protestando, só que não deram a mínima. Matéria paga de indústrias de fertilizantes químicos, uma aberração. Total falta de respeito para com os cidadãos deste país. Agora, vemos no Fantástico outra mentira “fantástica”. Ervas matam, remédios químicos não. Afinal essa foi a intenção do dr. Varela( no caso, testa de ferro dos laboratórios multinacionais), desmoralizar a medicina natural, medicina de Deus, que sempre, desde que o ser humano está na terra, tem curado ou aliviado seus males.Daqui a pouco vão querer pôr na cabeça do povo que sucos naturais de frutas dão câncer e que refrigerantes e bebidas industrializadas é que fazem bem à saúde.Só falta isso pra completar a picaretagem que se instalou nos meio de comunicação do Brasil.

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  2. A indústria farmacêutica fatura bilhões e é lógico que não quer perder essa grana toda.
    O Dráuzio Varella tem um nome poderoso na mídia e o que ele diz a maioria dos “desavisados” vão acatar como lei. Quantos milhões seriam perdidos com quimioterapia ou radioterapia se souberem que a babosa cura o câncer?
    Não seria nada bom saber que um bom suplemento de vitamina E ou chá de gengibre faz o mesmo efeito que a Aspirina mas sem os efeitos colaterais.
    Postei alguns artigos sobre isso no blog
    http://estoubeim.blogspot.com/2010/09/como-o-seu-medico-se-atualiza-isso-pode.html

    http://estoubeim.blogspot.com/search/label/medico

    É uma pena que aqui no Brasil as coisas andem assim. Na Alemanha, mais de 60% de todos os pacientes são tratados com fitoterapia e a maioria dos médicos receitam remédios fitoterápicos.
    Epero que goste dos meus artigos.
    Um grande abraço e parabéns pelo site.
    Alberto Schläpfer

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    1. Prezado Albert,

      Irei publicar um texto do Drauzio, onde ele fala especificamente sobre o tratamento de cancer com babosa. Espero seus comentários!

      Aproveito para lhe parabenizar pelos excelentes textos em seu blog. Meus parabéns pelos edificantes escritos.

      Abraços!

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  3. Olá Anderson,enviei um email ao FANTÁSTICO,afirmando que tenho alta consideraçao ao médico Drauzio Varella,mas que ele é falho e desconhce a FITOLOGIA.Propus comentar sobre as ervas que o eminente médico desconhe e outras que podem ajudar a melhorar a sáude do paciente.Disse qe participei de mais de cem entrevistas na TV e até no Jo,comentando sobre fitoterapia.Aguardo resposta da rede Globo.

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    1. Meu caro prof. Lelington,

      Enquanto esperamos, podemos continuar com a publicação de outros textos. Houve um aumento de visitas diárias depois que o programa do Dr. Drauzio começou e é uma excelente oportunidade para difundirmos mais e mais informações corretas para nossos leitores.

      Abraços!

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  4. Prezado Professor,

    Como profissional da Medicina Chinesa há 30 anos, com formação pela Universidade de Medicina chinesa de Beijing e Diretor da Faculdade INCISA de Belo Horizonte, gostaria de parabenizar pelo texto lúcido, inteligente e assertivo. Você foi extremamente coerente. Obrigado, continue com seu belíssimo trabalhom precisamos de pessoas como você.
    Paulo Noleto

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  5. Parabéns pela coragem!
    Acabei de conhecer o blog e fiquei impressionada!
    Espero fazer outras visitas… Mesmo sendo farmacêutica, não acredito nas indústrias farmacêuticas e, após ver tanto absurdo na faculdade, acabei criando um “blog alerta”. Minha formação extra-curricular foi em Medicina Chinesa e não há nada em que acredito mais que esta.
    Gostei muito do seu trabalho!!
    Mariana Dias

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  6. Adorei tudo que li a respeito das ervas medicinais e sobre medicina chinesa, sou adepta dos chás da vovo e adoro. A medicina moderna e super avançada pode ser realmente boa (tirando os lucros que dao) porém as pessoas de baixa renda nao podem ter acesso, entao porque nao adotar receituario de fitoterápicos para as pessoas menos privilegiadas? Se os médicos alopatas não tivessem que trabalhar em mais de um emprego para sobreviver (os do SUS) sobraria mais tempo para que converssassem com os pacientes e poderiam sentir que a maioria dos sintomas que apresentam nao sao de dores fisicas e que se trata de um conjunto de fatores psicologicos que os leva ao consultório médico.(fome,desamor,falta de expectativa de vida, etc.) mas … enfim estamos no Brasil (um pais rico) mais o que menos importa é a saude daqueles que nao podem pagar um plano de saude(absudamente caro, principalmente para quem já passou dos 60 anos (alias os que mais precisam). Morrei sem ver uma politica voltada para os menos privilegiados , isso é muito triste. Enfim essa e a nossa realidade.

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